Ética e Responsabilidade Civica

29-11-2015 21:21

 Ética e Responsabilidade Cívica

 

 

 

  • Joaquim Paulo Silva

 

 

 

 

Uma das grandes e perenes discussões sobre o exercício de cargos políticos, são os padrões de comportamento, ou como é situs vulgar, de gestão da “coisa pública”, conectado imediatamente com a responsabilidade cívica do exercício desses cargos, isto é, da exemplaridade perante quem representam, dos seus actos enquanto cidadãos, no âmbito dos regimes democráticos, até hoje, salvo melhor opinião, o mais próximo do respeito pela liberdade e dignidade humanas.

Este tema entronca, com toda reflexão desenvolvida, desde os Gregos, passando pelo renascimento e pelos fundadores do Estado moderno (Hobbes, Montesquieu, Kant, Rosseau, entre outros), que, como é obvio, não iremos esmiuçar aqui.

 

Mas, atentemos, como aparece no início, este tema, não é novo, e reaparece sempre que evidenciam as sociedades sinais de crise: social, espiritual, cultural, familiar, de organização até. Agravada será pelos pressupostos reinantes, fundamentados em valores efémeros (ver o filósofo Lipovetski), baseados no (ab)uso do utilitarismo, no materialismo mais baixo e na mediocridade elevada a padrão. Ora neste âmbito, temos de iniciar o percurso percebendo que os cidadãos que exercem cargos políticos são seres humanos comuns, vivendo exactamente na mesma sociedade que os demais, sofrendo as mesmas pressões (ou até superiores) e tentações que os demais. O vulgar uso de expressões como a “gamela”, “eles só querem é ir para lá e depois não querem saber de mais nada”, o “tacho”, muito à portuguesa, poderão ser aplicáveis a muitos outros sectores da vida em Portugal e a muitas outras pessoas, por vezes as mesmas que invectivam os políticos. Portanto a “massa” que enforma é a mesma, e pensar o contrário é pura ilusão.

 

No entanto, isto, não iliba quem exerce cargos públicos de cariz político de um discurso, pensamento e acção política vinculada altos valores éticos e a uma responsabilidade cívica ímpar, exemplar.

 

 

Na realidade, por altos valores éticos e responsabilidade cívica, queremos afirmar, aqueles se vinculam a uma ética republicana, da humildade e dignidade do exercício, da probidade e honestidade, do serviço e da realização, do trabalho em prol do bem comum, da ética do outro como nosso espelho, do exercício de uma soberania delegada e como tal humanizada, em função do ser humano holisticamente concebido, sempre perecível e como tal nunca assumindo característica de usufruto definitivo, não em nome de (em forma populista), mas como parte de uma comunidade que num dado momento nos escolhe, por um breve período temporal cósmico para gerir com racionalidade, humanismo e dignidade a condução dos seus destinos.

Capazes de uma abertura e tolerância capazes criarem e solidificarem formas de comunicação horizontal, sem hierarquizações abusivas, gerindo instituições como paredes de vidro, onde possamos encontrar a verdade em cada esquina administrativa.

 

 

É neste quadro que poderemos reconceber uma nova ligação/confiança da política à sociedade e envolver as novas gerações nos processos de decisão da res publica, numa linha recta e de rectidão.