O Lugar da Ética : A Centralidade dos Valores no Serviço Social

22-11-2015 18:29

O Lugar da Ética : A Centralidade dos Valores no Serviço Social


 

A Centralidade dos Valores


 


 

A ética esclarece-nos que valores são princípios ou ideais que se impõem como categorias que devem conferir sentido aos comportamentos/condutas do homem na cidade (na polis), por exemplo, os valores da dignidade e da justiça social. O tempo que vivemos é o que Lipovetski define como do “Efémero” ou do “Vazio”. Efémero e vazio implicam um declínio dos valores éticos na sociedade, ou no contexto das relações sociais.

A centralidade dos valores éticos no campo do Serviço Social (como aliás no campo das relações sociais), extrai daqui um conflito base, é o novo contexto onde o Serviço Social actua e interage com os campos do conhecimento e da regulação social . E há um novo contexto, derivado da globalização informacional ou da sociedade da informação (Castells), que nas palavras de Fernandes (2007), reforça a cisão (face à tradição e à modernidade), da tríade verdade - bem e belo, desvalorizando o ideário dos valores éticos, pelo declínio da modernidade.


 

O Serviço Social é assumidamente um projeto de Valores (ético), um projeto que questiona o Ser Humano em construção, e o mundo (eco-social) em que se constrói.


 

E portanto um processo ao qual não chega apenas implicar um Código Deontológico. Isto é, tem de se implicar naquilo que se define como a “promoção do bem-estar, o auto conhecimento e a valorização dos indivíduos, grupos e comunidades..”, ou seja eticamente, tem de definir bem melhor o que é o Bem-estar, partindo de uma perspetiva ecológica, ou seja, que não é sem dúvida mais mercado, mais consumo, mas mais ser, mais dimensão consciente, outra dimensão que não seja de aquisição, mas de encontrar, no processo associativo e cooperativo, para além do interior, dentro de si próprio, os recursos que a comunidade não consegue já possuir, ou oferecer. Participação consciente na construção da vida pessoal e da sociedade.

Consciente, ética e ecologicamente envolvidos na participação de uma vida económica suficiente, espiritual e culturalmente enriquecida, por uma participação política total e comprometida.

O referencial ético, ou seja, a construção do sujeito ético, presume a atualização do conceito ético, em cada um dos valores que nos implicam numa nova retórica do Ser, liberto do domínio do ter, das “coisas”, porque a ética nos convoca para as causas e não por coisas, as coisas tem preço, o homem tem dignidade (Fernandes, 2007).


 

Ora a construção dessa dignidade, passa pela centralidade dos valores, como participação consciente, na vida em sociedade, como consciência vital do mundo, que ultrapassa a mera conceção do aumento de rendimento, e o processo limitado ao consumo, como centro de uma economia de “recuperação” da exclusão, que convoca medidas tão importantes como o RSI (ou Bolsa família no Brasil), para uma visão, limitadora (de senso comum, mas de encontro ao consenso consumista), em torno, dos gastos com o consumo de bens, como “pequeno almoço em café”, objeto da critica, pela classe média (em queda segundo Elisio Estanque,...).

O Bem estar, diz respeito à dignidade, que se funda na liberdade, que tem centro na equidade e não discriminação, cujo foco é a justiça e seu acesso equanime, e cuja responsabilidade social dos agentes é fundamental, diremos mais, Resposabilidade Eco-Social: com o ser humano e a natureza.

O projeto ético do serviço social, vincula-o, a “uma construção da ordem societária que permita o desenvolvimento dos seres humanos, salvaguardando o equilibrio ecólogico e os direitos das gerações vindouras”.


 

Pelo que a prática ética, dos valores, e a sua centralidade, é uma prática ecológica, porque parte, hoje, da construção de novas sociedades baseadas em recursos escassos, e no risco global ecológico. Os valores em construção, implicam a cooperação e associação, a economia suficiente social, a partilha desses recursos.


 

Dignidade e não aumento de capacidade de consumo, que pode presumir colapso imediato e insustentabilidade para as gerações futuras.

Centralidade dos valores e da dimensão eco, global, na prática profissional, e na conceção do ethos do serviço social.

Ciência e técnica – com consciência e ética, predominando do centro de uma ação, eco-ética.

Uma nova Ordem ética, cuja centralidade seja ecocêntrica, visando o equilíbrio da comunidade terrestre. Para isso, o processo de desenvolvimento ético do serviço social, tem de organizar-se de acordo com o paradigma eco social, e ser a ponte para a aliança necessária entre entre as pessoas e povos, de modo a serem aliados neste processo de transição dolorosa, para uma economia suficiente e de rejeição dos depradadores do Mercado, aliados uns dos outros, sob o signo da fraternidade, no campo da justiça social e da visão eco-social (ecologia-economia e sociedade) como uma reconstrução da solidariedade, a partir de baixo, da experiência ética com o outro (que é também um coletivo – comunidades e nações), capaz de reorientar o Estado Social, não para a submissão a um Estado Privado e delapidado, mas um Estado Gerido, pela comunidade, subjacendo a ética do bem-comum, da redistribuição, do PIF, como objetivo, do SER como ómega ponto de asserção.


 

A ética no campo do serviço social é central para a recuperação do Ser, como profissional de valores e do cidadão, como cidadão de partilha, averso ao utilitarismo. Uma ética, estética.


 

Sem dúvida que a emergência e a generalização da tecnociência explicam, a necessária deslocação da ciência, para a centralidade dos valores, ou seja uma ciência também moral. Porque a ação substituiu a contemplação, e portanto a inscrição ética é fundamental, é uma marca que terá definir a centralidade da ação, que sucumbiu, num tempo á neutralidade científica.

Como nos diz Prigogine, “uma ação manipuladora, criativa, mas respeitadora da natureza”, ética em suma! Uma ética que será das coisas, mas também das pessoas.

 

Joaquim Paulo Silva,

Mestre em Relações Interculturais

e Coordenador da ACPC