Por Um Modelo Eco Social

18-06-2013 22:56

Por Um Modelo Eco Social


 


 

A desconstrução do pensamento Moderno, ao nível social, Daniel Bell (sociedade pós industrial) ou François Lyotard (sociedade pós moderna), signficou a conceptualização de um mundo, da Modernidade, que ao reinventar-se com tanta regularidade nos planos científicos e tecnológicos, criando um novo mundo planetário de comunicação, sistemas, informática, robótica, comunicações instântaneas, cultura sem identidade (globalizada), varre o ideal que a Modernidade tentou sempre legitimar, da Revolução Social, da Libertação pela afirmação dos Direitos e das Liberdades (sejam na via Reformista ou Revolucionária).

A Tecnologia uniu o Mundo, mas separou no universo da Noosfera humana, cultura-política, coletivo-sujeito, Estado-Identidade. Com isso recriou um outro processo de socialização, liberto das amarras esquerda/direita, progresso/conservadorismo. Porque a ideologia desaparece como centro da informação/pensamento e cultura, e entra o objecto posse, a tecnologia do momento, de uma cultura ?non engagé?, mas de entretenimento, subliminar, elaborada no plano visual e dos média, mas pobre no sentido e na estrutura de vida, história e pensamento. Da saúde à lei, da educação à justiça, desmantela-se a noção de poder e direito, de democracia representativa e de subida social, por uma socialização instrumental, de aquisição, ou nas palavras de Braudillard e Lipovetsky uma dissolução do social, na medida em que instaura uma rutura com uma tradição intelectual e cultural, que provém do Renascimento, mas tem o seu auge com a Revolução Francesa, em que o sentido da ação está ligado à instrumentalidade da mesma.

A instrumentalidade, nas palavras de Touraine (1994), é gerida pelas empresas, económicas ou políticas, em concorrência entre si nos mercados; o sentido tornou-se puramente privado e subjetivo. Tudo é possível nas escolhas privadas, porque o público desaparece enquanto instrumento de regulação ética, de comunhão de um coletivo (seja a classe, o grupo, a religião, a nação). Neste sentido, a política que é sobretudo um sentido de ação coletiva, perde referência, e limita-se á pragmática da gestão do quotidano, abdicando de mudar o mundo, projeto da Modernidade. O único fator, desencadeador, de uma solidariedade global, é o pensamento ecológico, no sentido (que principalmente a ação do Green Peace foi decisiva), em que a ação destruidora da tecnologia e do consumo, pôs em causa o equilíbrio ambiental, mas também em consequência, o equilibrío dos recursos e portanto a equidade social, intergeracional e entre nações e continentes, assim como da organização económica orientada para exploração global.

Das três tendências do nosso tempo (touraine, 1994), a instrumentalidade tornada ação estratégica, o refúgio na vida privada e a globlaziação ecologista levantados pelos problemas da exploração tecnológica, só o último poderá ser tendência para a recondução do sentido e da ética humana.

Porque enquanto avança esta decomposição social, em simultâneo, o caos, a exploração dos mercados sobre países, regiões e pessoas, cavando fossos enormes de posse e acesso, cresce a consciência que só um novo pensamento, Eco-Social, que integra a os direitos sociais e ação ecológica (no seu relevo global), pode recuperar o sentido, reorganizar o coletivo, refazer ação política, alterar a conceção de democracia, facilitar políticas Eco-sócio-económicas novas de equidade, redistribuição e ecologicamente sustentáveis.


 

Para isso é necessário é necessário um aumento de consciência da mudança de estilo e padrões de vida, tomando, simultâneamente consciência do vazio e possibilidade de radical empobrecimento que o consumismo doentio conduz cada ser humano nesta sociedade (Fromm). Esta tomada de consciência está a ser dolorosa, pela via da pauperaização de quem antes tinha acesso a todo o objecto de consumo. A brutalidade acumulativa, está a criar o axioma fundamental, uma economia suficiente- uma economia saudável, uma economia livre do consumo doentio. Esta mudança não ocorre por decreto, mas no quadro de um moviemnto, inspirado nesta nova consciência, movimento que na prática possa se apropriar dos meios de produção, ou que possa definir, como Movimento, influenciar, o que não é mais necessário como consumo de massas, princípio aliás também a abolir.

Neste contexto, as finalidades passam, decisivamente para um processo de empoderamento dos cidadãos sobre a sua consciência de consumidor, das suas necessidades efectivas, através de organizações que limitem o poder das multinacionais, influenciem o Estado e os governos e na forma de democracia econímica participativa, com a ajuda de peritos determinem os factores alienação consumista e destruição do Ser (Fromm).


 

Polanyi (cit in Caldas, 2010), diz-nos em 1944, que o projecto de disseminação do mercado, ou dos mercados, como forma de gestão económica do mundo (visão mutiladora esta), como utopia então da terra plana, era uma distopia, ou seja, porque causaria uma destruição social e ambiental tal que levaria á reacção de contra movimentos contra esta utopia (á época nem ele pensou que a própria natureza fosse ela mesma a grande opositora!). Na verdade mais prosaicamente essa utopia está realizada hoje,e se chama globalização, e os sofriemntos se concretizaram de modo dilecerante no campo social e no campo ecológico


 


 

Se todos somos os sofredores com as alterações climáticas, e portanto a intervenção é global, aqueles que se situam, e muitos são, hoje, nas franjas alargadas da sociedade, mais ainda sofrem as consequências desta doutrina de mercado que Polany identificou como contrária á própria existência humana.

O universo emergente do alternativo, não está ainda ao alcance do universo social da maioria da população. As práticas ambientais exigem não só reeducação, hábitos, mas investimento. Partilha comunitária para a renovação do parque habitacional, da rede de transportes, do aproveitamento energético, para a vida quotidiana. Não podem ser apenas os condominios privados a possuir formas inovadoras de reaproveitamento energético (lixo, águas residuais, tratamento esgotos, transformação em aquecimento, etc). Em interligação com a economia, não podem mais continuar, a serem escravos de um mercado

As limitações que Polanyi (2000) nos indicou á terra planagem mundial, pelo mercado, aparecem hoje de forma radical.

O Mercado não é solidário. O Mercado não promove a participação. O Mercado não aprofunda a democracia, pelo contrário aprisiona.

O foco, é como ir mais além face a este quadro reconhecido e conquistado no propósito do empowerment ecológico, que é sócio-político das populações. A reconstrução económica é essencial. Vimos em Boff (1996), que um dos movimentos essenciais é contra a economia do ilimitado, mas por uma economia do suficiente, num contexto de recursos escassos, mas ilimitadas alianças entre a ciência, a tecnologia, a natureza e o ser humano.

O colectivo toma novamente importância pela organização de comunidades de ?economia suficiente solidária?, sem desperdicios, avessa á acumulação, á competividade, á exploração humana. Partilha é a base.

Atacar a solidão, do idoso abandonado, por uma nova política de comunidades, utilizando as redes tecnólogicas de alerta, utilizando uma espécie de sentinelas permanentes; mas também atacar a solidão daqueles que se refugiam por assumirem na psicoesfera dominante que foram os perdedores do mercado; unindo os sobre endividados em grupos de partilha e comunidades de mercado solidário, asumindo em grupo os processos de mudança para uma vida útil, suficiente, não orientada para o consumo e de combate aos mercados, aos agentes financeiros á agiotagem. Cooperativas, associcações, mutualidades, todo o tipo de organizações, cujo escopo e fim é a reintroidução do principio da crença na bondade, na comunidade contra a exploração e pelos principios da não acumulação, da liberdade sem ter como condição a adesão ao mercado usurpador da mesma, da solidariedade real na conquista de processos colectivos identificadores de pertença. Requalificação humana por um ethos consistente que afirme na práxis a alternativa da participação real, da libertação do mercado pela construção de mercados alternativos, de produção conjunta de energias renováveis ao serviço de todos e não de élites de condomínio.


 

Diz, Álvaro Santos (2011), ?a ética não é um mero código normativo?Ética é o instrumento pelo qual a profissão reflecte sobre o mundo onde está inserida?. Nesse sentido e tendo em conta os princípios éticos, e a análise social, que em Tony Judt (2011), nos indica que ?há algo profundamente errado na maneira como hoje vivemos. Durante trinta anos consideramos ser uma virtude a procura da satisfação material: de facto, essa procura constitui agora o que resta do nosso sentido de vida colectiva?.


 

Mas, se o que nos resta é só isso, é porque perdemos a noção do bom, justo, correcto em proveito de um projecto neo liberal que iniciou a ascensão nos anos 70 do século passado, e hoje pagamos a longa factura. Ecologicamente, sociologicamente, politicamente, economicamente, imbricadas que estão as áreas, temos o dever de repensar que o que apresentávamos como objectivo, o progresso humano tem de ser redefinido, redimensionado, não meramente para uma concepção materialista, mas acima e sobretudo de realização global do ser humano, que no mínimo passará por um mercado suficiente, controlado por comunidades exigentes e solidárias e portanto, refundadas. Antes pois, de propormos, deveremos repensar a formulação do que significa progresso humano, hoje, á luz de uma narrativa liberal que oferecia felicidade = consumo, confundindo-se com progresso.


 

Um Modelo Eco-social é pois um modelo que nos vincula a uma mudança do olhar sobre o ser humano e a forma como está/ ou sê no Mundo e no Universo. Porque nos implica total, uma visão de uma humanidade que só existe numa teia de relações, de relações inclusivas (Boff, 1996). Numa interdependência que contraria a lei do mercado (do mais forte), pelo contrário evidencia a profundidade do elo que cada ser representa na cadeia eco-social, a começar pelos mais pobres e marginalizados. Porque o Modelo Eco-Social, responde ao que fundamentalmente está em crise o modelo de sociedade. O Modelo Eco-Social é o que releva no centro, como o maior problema ecológico, na organização socio-tecnológica atual, a pobreza, fruto do desequelibrio da posse e exploração de recursos e humana. O Modelo Eco-Social, substitui os conceitos dominantes de posse, pelo de cooperação. 

 

 

Joaquim Paulo Silva

Coordenador da ACPC